Não consigo esquecer, aquele olhar despedaçado de duas vidas consagradas ao futuro indigente, duas crianças, uma rua, mil motivos, ora mãos que oferecem migalhas, ora mãos que oferecem o ópio necessário para fugir, do frio, do acaso, descaso, do sofrimento e degradação, me pergunto, onde estão as mãos que oferecem rosas? Onde estão as mãos generosas? Tecendo cuecas maiores? Bolinando seios prematuros? Talvez...
Me apego em pensar "somos todos iguais, braços dados ou não", me apego a sonhar que outros mais pensam assim.
Ela disse "minha casa é a rua, moça", que casa grande, eu pensei, tão grande quanto o vazio que me consumiu ao ver-me refletida em seus olhos amendoados, vermelhos e opacos, só uma menina, voltei a pensar, uma menina de infância usurpada, uma mulher, uma mãe...
Então, não sei como foi o teu "feliz dia das mães", mas gostaria de entregar-te meu buquê-de-esperança, pode não parecer muita coisa, mas é tudo de mais lindo e verdadeiro que posso oferecer-te.
Ela se foi, com sua saia amarrotada e barriga ao vento, eu disse: vai com Deus. E fiquei, e chorei, eu, um espelho, e minha alma...
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